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Ken Klippenstein, repórter investigativo e superstar do Twitter, diz que "foi mordido pelo bichinho da LAI logo no início… e [não] parou de enviar pedidos desde então"
Escrito por Liam Knox do MuckRock
Editado por Beryl Lipton, JPat Brown do MuckRock
Tradução de Juliana Arthuso para a Fiquem Sabendo
A entrevista traduzida e reproduzida abaixo foi publicada originalmente em inglês na seção “Requester’s Voice“, projeto de entrevistas do MuckRock, organização americana especializada na FOIA. A publicação em português pela Fiquem Sabendo foi realizada com apoio do International Center for Journalists (ICFJ) - conheça o projeto "LAI e FOIA: diálogos transparentes Brasil-EUA" e assista às entrevistas no Youtube!
Ken Klippenstein é um repórter investigativo sênior do The Young Turks e se autodescreve como "nerd da Lei de Acesso à Informação". Seu recente trabalho de registros públicos teve como foco o impacto da paralisação histórica do governo dos EUA em janeiro de 2019, o apoio político dos Estados Unidos ao envolvimento militar saudita no Iêmen e a transparência do financiamento de campanha para potenciais candidatos a presidente dos EUA em 2020.
Para a série Requester's Voice (Voz do Solicitante) do MuckRock, Klippenstein falou sobre seu amor pela Lei de Acesso à Informação (LAI), as vantagens de viralizar nas redes e a “relação simbiótica” entre jornalismo e ativismo.
Sua bio do Twitter te descreve como um “nerd da LAI", há quanto tempo você faz pedidos? E o que você considera mais importante ou interessante sobre a reportagem de registros públicos?
Eu diria que "fui mordido pelo bichinho da LAI" muito cedo. Comecei a me envolver nisso quando o relatório da CIA sobre tortura foi divulgado sob a administração do Obama [em 2014]. Lembro-me de ter lido sobre [o procurador-geral adjunto] John Yoo e o trabalho que ele fez para fornecer a justificativa legal para o programa de tortura contra o terrorismo. Então, eu usei a LAI para obter seu e-mail e descobri que ele não estava dando nenhuma entrevista para a TV, estava apenas evitando ter que responder às revelações do relatório. As pessoas realmente responderam a essa história, estavam muito interessadas. Depois disso, as "comportas foram abertas" e eu realmente não parei de fazer pedidos desde então.
A questão é que documentos são divertidos! Lembro-me de fazer centenas de pedidos, um mês depois daquele primeiro. É tão interessante ver o que mandam de volta para você.
Acredito que temos as melhores leis de registros abertos do mundo, e é definitivamente algo de que aproveito, e acho que mais pessoas deveriam aproveitar. Eu recebo muitas pessoas, como jovens jornalistas, perguntando como eu "consegui" ou algo assim. Embora eu não seja um especialista, o que me despertou muito interesse foi revelar histórias, com documentos de fonte primária para apoiar minha hipótese. E a LAI é uma ótima maneira de fazer isso.
Quais são alguns dos pedidos de LAI mais desafiadores que você enviou, ou os obstáculos que enfrentou para obter uma resposta?
Eu já preenchi provavelmente milhares de pedidos até o momento, então há muitos que acabaram sendo extremamente frustrantes. Eu diria que, embora existam maneiras de melhorar suas chances, nada vai mudar o fato de que as instituições querem se resguardar e proteger as pessoas para quem trabalham - isso é óbvio, na minha opinião.
Eu disse que temos as melhores leis de registros abertos do mundo, pelo que eu sei, mas ainda há espaço para melhorias. Uma maneira de melhorá-las seria ter uma verdadeira Lei de Liberdade de Informação,em vez do que chamo de “Freedom of Records Act” (Lei de Liberdade de Registros).
Um problema é que você precisa saber o nome dos registros. E com agências de inteligência e agências de segurança, é extremamente difícil saber o nome do registro que você está pedindo, a menos que você tenha uma fonte interna.
Então, acho que a próxima etapa é fazer com que não seja preciso saber o título e a localização exata de um registro para fazer um pedido. E que seja possível simplesmente pedir por um registro e alguém fará um esforço de boa-fé para tentar encontrar algo próximo do que você está procurando.
O outro problema é que as agências federais de segurança e de inteligência em geral têm enormes atrasos. E não parece que estão interessadas em reduzí-los significativamente. Ainda tenho centenas de pedidos esperando há anos, que fiz quando comecei a trabalhar como repórter. Portanto, seria bom fazer algo sobre os atrasos, mas isso não parece ser uma prioridade.
Isso é tecnicamente contra a lei, certo? Esperar por tanto tempo?
Sim, mas esse é o outro problema com a FOIA nos Estados Unidos: não há um mecanismo real de cumprimento da lei.
Você já viu alguma mudança a partir de um pedido que fez?
Então, eu fiz um sobre o voto de um congressista democrata contra esse projeto que basicamente encerraria o apoio dos EUA à guerra do Iêmen em dezembro do ano passado, e o político emitiu um pedido de desculpas porque descobri que - bem, ele é um dos poucos Democratas a votar com os republicanos neste projeto de lei que teria encerrado o envolvimento dos EUA nesta guerra horrível que causou a fome em massa, a maior epidemia de cólera registrada na história, etc.
E então eu conferi o histórico dele, mostrando o dinheiro que ele recebeu de empresas do setor de defesa, reuniões que ele teve com representantes do governo saudita e, também que votou contra um projeto que teria barrado as transferências de bombas de fragmentação para os sauditas.
Então, ele postou um pedido de desculpas no Twitter, dizendo que deveria ter se engajado mais na causa do Iêmen. E recentemente eles apresentaram um projeto de lei muito semelhante e imagino que ele votará da maneira certa desta vez. Então eu diria que é algo que me fez sentir muito bem, porque a situação no Iêmen é uma terrível catástrofe humanitária.
Assista às entrevistas já produzidas com apoio do ICFJ:
Acesse os guias que produzimos para o projeto:
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Este conteúdo saiu primeiro na edição #66 da newsletter da Fiquem Sabendo, a Don’t LAI to me. A newsletter é gratuita e enviada quinzenalmente, às segundas-feiras. Clique aqui e inscreva-se para receber nossas descobertas em primeira mão também.