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Em entrevista exclusiva à Fiquem Sabendo, David Cuillier fala sobre acesso à informação em períodos de instabilidade e os riscos pós-pandemia
A Fiquem Sabendo, agência de jornalismo de dados e acesso à informação, realiza entrevista com David Cuillier, professor da Escola de Jornalismo da Universidade do Arizona e um dos principais nomes do acesso à informação no mundo. Presidente da National Freedom of Information Coalition (Coalizão Nacional para Liberdade de Informação, em tradução livre), ele desenvolve pesquisas sobre acesso à informação e estuda estratégias para aumentar a transparência do poder público para com a sociedade e a imprensa.
Assista ao vídeo completo no Youtube da Fiquem Sabendo.
Em entrevista à Fiquem Sabendo, Cuillier comenta sobre ataques à transparência durante a pandemia e suas possíveis motivações e consequências.“Depois de todas as grandes emergências ou crises da história costuma haver uma grande diminuição do acesso à informação”, alerta o co-autor do livro A Arte do Acesso: Estratégias para Obter Registros Públicos. “Uma vez que temos a detenção de informação após emergências, o sigilo permanece", conclui.
Ele lembra ainda que durante a Segunda Guerra Mundial o slogan era "Loose Lips Sink Ships" (quem fala demais, afunda navios) e que durante a Guerra Fria o sigilo também era considerado estrutural. "Aliás, foi por isso que os EUA aprovaram a FOIA (Lei de Acesso americana), como uma resposta a todo o sigilo imposto por essas duas guerras".
A entrevista é parte do projeto da Fiquem Sabendo com apoio International Center For Journalists (ICFJ) intitulado “LAI e FOIA: diálogos transparentes Brasil-EUA”. A iniciativa busca aproximar a Lei de Acesso à Informação (LAI) de sua correspondente norte-americana, o Freedom of Information Act (FOIA), de forma a trocar experiências e ampliar o acesso à informação no Brasil.
Sobre as tentativas dos governos de congelar o acesso à informação durante a crise da COVID-19, Cuillier é categórico: "A população quer saber os fatos e os números, para entender o tamanho do problema. Agora é ainda mais importante que agências governamentais sejam abertas e honestas com seus dados e a informação que possuem, ao invés de serem mais sigilosas. Dizer que não é uma atividade essencial é absurdo!".
Além do combate ao coronavírus, o acesso à informação e leis de liberdade de informação movimentam as engrenagens econômicas dos países. "As pessoas precisam de informação para seus negócios", afirma o pesquisador. Ele lembra ainda que nos Estados Unidos, pelo menos dois terços dos pedidos de acesso à informação são para uso comercial. "Essas pessoas dependem de informações para conduzir seus negócios".
Cuillier cita o livro Democracy's Detectives, no qual J. Hamilton conclui que cada dólar investido em jornalismo investigativo com base em documentos resulta em, aproximadamente, 287 dólares em benefícios para a sociedade. "Estamos falando de salvar vidas, reduzir impostos ao inibir a corrupção e até mesmo conseguir taxas de adesão mais baixas em títulos municipais, empréstimos e contratos", resume o especialista.
Para o pesquisador americano, parte do motivo para a falta de transparência é a má gestão de dados e registros públicos, o que se torna ainda mais grave durante uma pandemia. “Poderia ser que eles realmente não têm informações precisas, não coletam da forma correta e estão com medo de serem descobertos, pois é vergonhoso para instituições e agências”, afirma.
Por outro lado, ele acredita que prevalece também uma cultura paternalista por parte das autoridades: se a população soubesse da verdade, não conseguiria lidar com ela. "Eu discordo disso, acho que a população consegue, sim, lidar com as informações".
Leia aqui outra entrevista de David Cuillier sobre acesso à informação, realizada pela agência MuckRock e traduzida pela Fiquem Sabendo com apoio ICFJ.
Confira mais entrevistas do projeto:
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Este conteúdo saiu primeiro na edição #66 da newsletter da Fiquem Sabendo, a Don’t LAI to me. A newsletter é gratuita e enviada quinzenalmente, às segundas-feiras. Clique aqui e inscreva-se para receber nossas descobertas em primeira mão também.