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Apoie agoraLéo Arcoverde
PMs reprimem manifestação na avenida Paulista, região central de São Paulo. Foto: Paulo Pinto/AGPT (18/09/2016) As reações dos leitores de título, espécie cada vez mais abundante entre nós que tem como característica principal compartilhar e comentar nas redes sociais aquilo que não leu, a duas reportagens recentes publicadas pelo Fiquem Sabendo me fizeram constatar: ninguém está nem aí para os assassinatos de policiais militares. No dia 18 de julho, postamos uma matéria mostrando o aumento dos assassinatos de policiais militares em São Paulo neste ano na comparação com 2015. Entre janeiro e junho, 33 PMs foram mortos no Estado. O link da reportagem na página do Fiquem Sabendo no Facebook recebeu 11 comentários. O seguinte comentário exemplifica o teor da maioria dos demais: “Não se vê nenhuma manifestação dos covardes dos direitos humanos dos bandidos”. Nesta segunda-feira (19), o Fiquem Sabendo postou uma reportagem com o seguinte título: “Um terço das prisões de PMs em SP é motivada por homicídio ou lesão corporal”. Até o momento em que escrevo este texto (pouco mais de 24 horas após a postagem), a matéria já recebeu 81 comentários. Um dos leitores exige, indignado: “Agora coloca os dados de policiais mortos!” Depois que respondemos com o link da primeira matéria, ele não escreve nenhuma linha a mais. O restante dos comentários consiste em um embate no qual um lado majoritário defende a Polícia Militar como um braço armado com legitimidade para bater e matar livremente (o que, por lei, ela não é!) contra uma minoria que questiona abusos cometidos por PMs. Transcrevo um dos comentários da maioria (sem corrigir o português): “Tem que dar pau mesmo vagabundo bom é vagabundo apanhando já que não vai ficar muito tempo preso que a polícia arrouxe a paulada esses vermes”. Outro, ipsis litteris: “Sempre está merda do pt, quebradeira no patrimônio dos outros pode ??????? Saudades com a cavalaria do sabre de borracha!!!!!!” O conteúdo dos comentários não deixa dúvidas: muitos dos autodeclarados defensores de uma polícia que mata apoiam, na verdade, a prática de abusos. Não se martirizam nem um pouco com a prisão ou até mesmo a morte de um policial. O que lhes incomoda é que se impeça o vale-tudo contra suspeitos de crimes. Para essa parcela de cidadãos, o cumprimento das leis, que preveem prisão e expulsão dos policiais que, comprovadamente, cometem crimes, é inaceitável. Tanto isso é fato que é comum PMs recorrerem a associações de classe ou até a políticos para terem um advogado para defendê-los nos processos criminais a que respondem. Fosse sincero o discurso de seus pretensos defensores, esse policiais rapidamente amealhariam por meio de uma singela vaquinha na internet quantias superiores às pagas pelos réus da Operação Lava Jato a seus defensores.
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Este conteúdo saiu primeiro na edição #66 da newsletter da Fiquem Sabendo, a Don’t LAI to me. A newsletter é gratuita e enviada quinzenalmente, às segundas-feiras. Clique aqui e inscreva-se para receber nossas descobertas em primeira mão também.