Central mecanizada de triagem na região do Bom Retiro, centro de São Paulo. Foto: Fábio Arantes/SECOM (16/07/2014)
A reciclagem de metais, papel, plástico e vidro ainda engatinha na maior cidade brasileira. O percentual de lixo produzido por cada bairro paulistano previamente separado de acordo com a sua composição em relação a todo resíduo domiciliar gerado nesses locais é muito baixo em toda a capital paulista.
Em 11 das 32 subprefeituras da cidade, menos de 1% do lixo é recolhido pela coleta seletiva; em outras sete, esse percentual varia de 1,1% a 1,9% dos resíduos gerados.
É o que aponta levantamento inédito feito pelo
Fiquem Sabendo com base em dados de 2015 da
Autoridade Municipal de Limpeza Urbana (Amlurb) obtidos por meio da
Lei de Acesso à Informação.
A reportagem teve acesso aos dados de 30 das 32 subprefeituras da cidade. Não há informações sobre os distritos de Guaianases, na zona leste, e Parelheiros, na zona sul.
Para chegar a esses percentuais, a reportagem comparou a quantidade de lixo recolhida pela coleta seletiva com o total de resíduos produzidos pela área de cada subprefeitura.
De acordo com os dados oficiais, entre as regiões onde o volume coletado pela coleta seletiva representa menos de 1% do lixo produzido, estão distritos populosos como Itaquera e Cidade Tiradentes, na zona leste, e M’Boi Mirim, na zona sul.
A subprefeitura com maior percentual de lixo recolhido pela coleta seletiva é a da Vila Mariana (9,68%); em seguida, aparecem Pinheiros (6,49%) e Lapa (6,14%). (Confira, no infográfico abaixo, os índices de cada região da cidade.)
Qual é a importância da reciclagem?
A
Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei Federal nº 12.305/2010) define a coleta seletiva como "a coleta de resíduos sólidos previamente segregados conforme sua constituição ou composição".
Mas, por que é importante separarmos metais, papel, plástico e vidro do restante do lixo que produzimos em casa?
Primeiro, porque a atividade econômica decorrente da coleta seletiva emprega cerca de 1.100 pessoas de baixa renda só na cidade de São Paulo. Elas fazem parte de cooperativas de catadores conveniadas com a
Prefeitura de São Paulo.
Em segunda lugar, reciclar é uma forma de diminuir a poluição provocada pela produção de gases do efeito estufa decorrente do lixo armazenado nos aterros sanitários.
Um terceiro aspecto positivo: quanto mais material reciclável é utilizado no ciclo de produção, menos matéria-prima é necessária numa cadeia produtiva. Isso pode significar, em muitos casos, menos desmatamento.
20% da população mundial consome 80% dos recursos da biosfera
A quantidade de lixo que geramos está diretamente ligada ao nosso comportamento enquanto consumidores.
Segundo o jornalista Hervé Kempf, autor do livro “Como os ricos estão destruindo o planeta” e especialista em reportagens sobre meio ambiente, diz, em um trecho de sua obra: “Estima-se que 20% a 30% da população mundial consuma de 70% a 80% dos recursos retirados anualmente da biosfera”.
De acordo com o jornalista, que defende a ideia de que só a redução do consumo por parte da classe média para nos livrar de um colapso ambiental, é necessário “estimular as atividades humanas socialmente úteis e de baixo impacto ambiental”.
“Diante da crise ambiental, temos de consumir menos para distribuir melhor. Para podermos viver melhor juntos, em vez de consumir sozinhos.”