Entrada do pronto-socorro do Hospital Municipal do Campo Limpo, na zona sul de São Paulo. Foto: Laila Mouallem/Jornalismo Júnior (ECA-USP)
Com 1.508 reclamações de pacientes registradas entre 2013 e 2015, o Hospital Municipal do Campo Limpo, na zona sul, foi a unidade de saúde desse tipo administrada pela Prefeitura de São Paulo alvo da maior quantidade de queixas no período.
Esse número representa 13% das 11.813 reclamações feitas contra os 17 hospitais municipais da capital paulista ao longo desses três anos.
A segunda colocação do ranking ficou com o Hospital Municipal do M’Boi Mirim, também na zona sul, com 1.290 reclamações no período.
Em seguida, aparece o Hospital Municipal de Cidade Tiradentes, com 994 queixas contabilizadas entre 2013 e 2015.
É o que aponta levantamento feito pelo
Fiquem Sabendo com base em dados da AHM (Autarquia Hospitalar Municipal), da
Secretaria Municipal da Saúde, obtidos por meio da
Lei Federal nº 12.527/211 (Lei de Acesso à Informação).
Os hospitais municipais de Ermelino Matarazzo, na zona leste, e da Vila Maria, na zona norte, completam o ranking de unidades que receberam mais reclamações de usuários. (Veja, no infográfico abaixo, o detalhamento desses dados.)
Usuários reclamam de demora para serem atendidos
A maioria dos pacientes do Hospital Municipal do Campo Limpo entrevistados pelo
Fiquem Sabendo reclama da demora para ser atendido. A reportagem visitou a unidade na tarde do dia 7 de junho.
Charles Lima diz ter levado cerca de quatro horas, entre as 9h30 e as 13h30, em seu atendimento. Ele foi à unidade tratar um machucado no ombro. De acordo com o usuário, um dos problemas da unidade é a quantidade insuficiente de médicos para a quantidade de pacientes atendidos. "Muitos consultórios ficam vazios", afirma.
Fátima Ribeiro da Conceição também reclama do atendimento no hospital. “Alguns médicos tratam as pessoas mal, com ignorância. O atendimento é demorado, muda toda hora de ficha", diz.
Outros pacientes avaliaram o serviço disponibilizado pelo hospital como positivo. É o caso de Francisca Fernandes, que foi à unidade para tratar uma dor no braço. Ela diz que, mesmo possuindo plano de saúde, vai ao local devido à qualidade do atendimento. "Já estou habituada com os médicos", explica.
Quanto à infra-estrutura do hospital, a avaliação dos pacientes também é positiva.
No momento em que a reportagem esteve na unidade, não havia preservativos no local de distribuição e a farmácia estava fechada.
UPA vizinha a hospital também é alvo de críticas
A UPA (Unidade de Pronto Atendimento), localizada ao lado do Hospital do Campo Limpo e também administrada pela prefeitura, também foi alvo de queixas dos pacientes na tarde de 7 de junho.
Jaqueline Lima, que levava a filha, com dor de garganta, à unidade, diz que só recorre à UPA quando não há alternativa. Ela disse que já teve de levar o filho de seis anos, que sofre de asma, a um hospital particular depois de ser mal atendido no local. “Meu filho ficou 17 dias internado por conta do atraso deles [UPA], que não quis atendê-lo. Eles fazem a avaliação da criança pelo choro dela”, conta.
Na opinião de Jaqueline, a quantidade de médicos da unidade é insuficiente em relação à quantidade de pacientes atendidos. “Não tem onde colocar a pessoa para tomar medicação. Meu filho já tomou soro no meu do corredor”, diz.
Já a paciente Daniela Almeida de Santos, que levou sua filha para ser atendida após ter batido a cabeça, elogiou a forma como costuma ser atendida na UPA. "Os atendentes perguntam o que ela tem, fazem exame, tudo certinho."
Unidade da Freguesia do Ó lidera queixas entre os prontos-socorros
Dos 16 prontos-socorro municipais administrados pela gestão do prefeito Fernando Haddad (PT), o da Freguesia do Ó (21 de Junho), na zona norte, é o campeão de reclamações. Foram 670 entre 2013 e 2015, de acordo com os dados fornecidos pela Autarquia Hospitalar Municipal.
A exemplo dos relatos colhidos no Hospital do Campo Limpo, os pacientes se dividem ao avaliarem o serviço prestado pela unidade.
Sara de Souza Lima, por exemplo, que levou o pai à unidade após ele passar mal, diz que o atendimento foi rápido. Segundo ela, os médicos do local se esforçam e, quando não são capazes de dar a assistência necessária, transferem o paciente.
Já Isabel Vieira da Silva diz que o atendimento é demorado. "Estou há 3 horas para [conseguir] tomar uma injeção." Ela relatou que outro paciente, com quem conversou na unidade, levou mais de cinco horas para ser atendido.
Por que isso é importante?
A saúde é um dos direitos sociais previstos pelo art. 6º da
Constituição Federal de 1988.
Ela está equiparada a direitos como educação, moradia, transporte e trabalho.
A obrigação do Poder Público prestar um serviço de saúde de qualidade à população está disposta em vários artigos da Constituição.
Um exemplo é o art. 196. Ele dispõe: “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”.
Já a
Lei Federal nº 8.080/1990 (Lei do SUS) dispõe, no seu art. 2º, que “a saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício”.
Hospital Campo Limpo é referência em atendimento, afirma secretaria
Procurada, a Secretaria Municipal da Saúde disse por meio de nota enviada por sua assessoria de imprensa que o Hospital do Campo Limpo "é referência para atendimento na zona sul" e que, recentemente, aumentou a quantidade de médicos do pronto-socorro da Freguesia do Ó.
Leia, abaixo, a íntegra da nota que a pasta enviou à reportagem:
"A AHM (Autarquia Hospitalar Municipal) informa que o Hospital do Campo Limpo é referência para atendimento na região Sul da cidade e, por conta disso, recebe grande volume de atendimento. Durante o período mencionado (2013 a 2015), o hospital realizou 475.269 atendimentos de urgência, emergência e ambulatorial. As reclamações, mesmo representando 0,31% do total de atendimentos, ajudam os gestores a aprimorar a prestação de serviços.
O hospital vem realizando ações importantes para qualificar ainda mais o atendimento. Como resultado, o hospital reduziu pela metade o tempo médio de permanência de pacientes entre 2014 e 2015. Passou de 13 dias, em 2014, para 6,3 dias em 2015 - queda de 51,53%. Tal redução segue o que preconizam as melhores práticas de gestão hospitalar em todo mundo, pois garantem o tempo necessário para a recuperação e ampliam a oferta de leitos disponíveis.
Em relação ao PSM 21 de Junho, a partir do mês de outubro do ano passado a Associação Saúde da Família (ASF) passou a administrar a unidade por meio de contrato de gestão. Houve aumento no quadro de médicos e ampliação no número de atendimentos."
* Com reportagem de Claire Castelano e Laila Mouallem, repórteres da Jornalismo Júnior (ECA-USP)