Manifestantes estendem faixa durante protesto contra a crise hídrica, em frente ao prédio da prefeitura, no viaduto do Chá, no centro de São Paulo. Foto: Paulo Pinto/Fotos Públicas (28/01/2015)
O serviço público de saúde prestado por 102 postos municipais foi parcial ou totalmente afetado devido a casos de falta de água entre janeiro de 2013 e fevereiro deste ano.
A intermitência do abastecimento, que se tornou frequente na capital paulista com o advento da crise hídrica, iniciada há cerca de um ano e meio, afetou o atendimento em 84 UBS (Unidades Básicas de Saúde), 15 AMA (Atendimento Médico Ambulatorial) 12 Horas e 3 AMA 24 Horas.
É o que aponta levantamento inédito feito pelo
Fiquem Sabendo com base em dados da
Secretaria Municipal da Saúde obtidos por meio da
Lei Federal nº 12.527/2011 (Lei de Acesso à Informação).
Não foram detalhados os endereços nem as datas onde esses casos ocorreram.
De acordo com os dados disponibilizados pela gestão do prefeito Fernando Haddad (PT), a região com a maior quantidade de postos afetados pelo problema foi a zona norte, onde 31 unidades tiveram o atendimento alterado pelas ocorrências de falta de água. (Veja o detalhamento desses dados no infográfico abaixo.)
A rede municipal de saúde é formada por 610 postos de saúde _ou seja, uma em cada seis unidades foi afetada pelo problema.
Zona norte concentrou explosão de casos de dengue
Mais dependente da água armazenada pelas represas do sistema Cantareira (o mais atingido pela crise hídrica) do que outras regiões da cidade, a zona norte concentrou a maior parte dos casos de dengue contabilizados ao longo deste ano na capital paulista.
Quando os casos de dengue começaram a apresentar picos de incidência, levando distritos da cidade ao quadro de epidemia da doença, a prefeitura sempre relacionou esses índices ao fato de moradores da zona norte terem criado o hábito de estocar água para enfrentar a crise de falta de água.
Entre fevereiro e abril, a zona norte concentrou praticamente metade dos casos de dengue contabilizados na cidade.
São Paulo teve hiperepidemia de diarreia em 2014
A suspensão do serviço prestado por parte dos postos de saúde municipais e a explosão dos casos de dengue não foram as únicas consequências à população associadas à crise de falta de água.
Em julho deste ano, reportagem do site "El País" mostrou que o
Estado de São Paulo registrou em 2014 uma hiperepidemia de diarreia, com uma média de 863 ocorrências registradas ao dia. Em todo o ano, foram cerca de 35 mil.
Em anos anteriores, essa doença apresentou uma variação de cerca de 15 mil a aproximadamente 25 mil casos.
Por que isso é importante?
A
Lei nº 9.433/97 (Política Nacional de Recursos Hídricos) prevê que a água “é um bem de domínio público” e que um dos objetivos dessa política é “assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos”.
Essa mesma lei federal determina ainda que “a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades”.
Em julho de 2010, a Assembleia Geral da
ONU (Organização das Nações Unidas) reconheceu o acesso a uma água de qualidade e a instalações sanitárias adequadas como um direito humano.
Trecho da represa Jaguari, em Joanópolis, interior paulista. Foto: NBQ
Empresa não se manifesta
O
Fiquem Sabendo solicitou à assessoria de imprensa da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de SP) um posicionamento em relação aos casos de falta de água nos postos de saúde da prefeitura. No e-mail encaminhado ao órgão, a reportagem informou que não dispunha de dados relativos aos endereços dos postos de saúde afetados pelo problema.
A assessoria de imprensa solicitou à reportagem, por e-mail, o envio dos endereços dos postos.
Os questionamentos feitos pela reportagem não foram respondidos.