O prefeito eleito de São Paulo, João Doria (PSDB), durante visita a Brasília. Foto: Lula Marques/Agência PT (25/10/2016)
Levantamento feito pelo
Ministério da Saúde aponta que 15,3% de todas as internações hospitalares em leitos do SUS (Sistema Único de Saúde) na cidade de São Paulo são de pacientes residentes em outras cidades. Os dados, de 2015, foram obtidos pelo
Fiquem Sabendo por meio da
Lei de Acesso à Informação.
Os hospitais públicos da capital paulista realizam, em média, cerca de 60 mil internações por mês. Isso quer dizer que aproximadamente 9.000 pacientes desse grupo morem em outras cidades.
Reportagem do Fiquem Sabendo publicada nesta segunda-feira (23) mostrou que os hospitais públicos da cidade de São Paulo registraram neste ano a maior quantidade de atendimentos no período desde 2011.
Na avaliação da Secretaria Estadual da Saúde, da gestão Geraldo Alckmin (PSDB), o aumento das internações tem relação com o aumento do desemprego, decorrente da crise econômica do país, que provocou a diminuição da quantidade de pessoas com planos de saúde particulares. “Com o aumento do desemprego, muitas famílias estão perdendo seus planos privados de saúde e recorrendo a hospitais e ambulatórios do SUS (Sistema Único de Saúde)”, informou a pasta em nota.
Segundo a secretaria, que cita dados da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), nos últimos três anos, 540 mil paulistas deixaram seus planos de saúde (leia mais abaixo).
Rede municipal puxou aumento
Conforme as informações tabuladas no banco de dados do Ministério da Saúde, foi a rede municipal quem puxou a alta do número de internações neste ano, com 10.544 casos a mais do que os registrados no mesmo período de 2015. Ao todo, a quantidade de atendimentos saltou de 175.640 para 186.584 em um ano.
Nos hospitais estaduais localizados na capital, a alta foi menos expressiva _de 2.610 internações no período.
Ao todo, os hospitais do SUS localizados na capital registraram neste ano um aumento de 2,95% na quantidade de internações. Apesar de pouco expressivo em relação ao universo de pessoas atendidas por essas unidades, esse porcentual é superior ao registrado, no mesmo comparativo, de um ano para outro, de 2011 para cá. No restante dos anos, o percentual mais alto havia sido registrado entre 2011 e 2012: 1,60%.
Especialistas veem aumento com preocupação
Na avaliação da economista e pesquisadora na área da saúde pública Maria Cristina Amorim, professora da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), o aumento do número de internações é “expressivo” e requer uma análise mais cuidadosa, que leve em conta outros aspectos além do aumento da produção do SUS em função da alta do desemprego.
“Não resta dúvida que o aumento do desemprego é uma variável importante, mas uma alta de 13 mil pacientes pode ser explicada também por outros fatores, como a diminuição da fila de exames, e encaminhamento desses pacientes para tratamento, algo que tem sido atacado pelas redes públicas de saúde nos últimos anos”, diz a especialista.
Ela afirma que vê com preocupação a possibilidade de os repasses da União na área da saúde serem impactos pela entrada em vigor da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 241, em trâmite no Congresso Nacional, que estipula o congelamento dos gastos públicos na esfera federal por 20 anos com o intuito, segundo os seus defensores, de contornar a crise econômica. Na opinião dela, se for aprovada com o texto aprovado em primeiro turno pela Câmara dos Deputados no último dia 10, na saúde, a regra de limitar o Orçamento da União ao valor do ano anterior acrescido da inflação do período resultará na diminuição dos recursos destinados ao SUS.
“O aumento dos custos em saúde é, historicamente, superior ao índice do IBGE para a inflação. Não se pode fazer uma projeção com demanda constante para o SUS, por um prazo tão longo, supondo-se que os preços de todos os insumos em saúde serão constantes e que a característica epidemiológica da população também não vá mudar”, diz Maria Cristina. “Estou estupefata com a discussão que se está tendo em relação a essa PEC.”
Para o presidente do Simesp, Eder Gatti, o texto atual da PEC 241, caso entre em vigor, diminuirá os repasses do governo federal para o SUS, o que, em sua avaliação, prejudicará o atendimento oferecido à população. “O SUS precisa de muito mais dinheiro. A esperança de salvar o sistema era o governo federal fazer um aporte maior do que o atual. Então, a tendência é a população demandar mais e mais o sistema, por causa da crise e do envelhecimento da população, durante um longo período com o orçamento congelado.”
Segundo Gatti, a saúde tende a perder a “disputa” com outros itens do Orçamento durante o período de vigência da PEC 241. “Embora a saúde seja vista como prioridade pela população, ela não tem o lobby forte de outras áreas. É isso que está colocado: haverá problemas de financiamento piores do que os atuais. A gente já vive uma situação muito complicada. Vejo o caos no futuro.”