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Anvisa abre precedente para obtenção de currículos de cargos comissionados
Você certamente já se deparou com uma situação em que um ministro (a) ou diretor (a) de algum órgão público nomeou um (a) servidor (a) que não tem domínio sobre a área que ele (a) deverá trabalhar. Ou pior: será que aquele servidor não tem algum conflito de interesse com o novo cargo, considerando os empregos anteriores?
Casos como este aparecem aos montes na imprensa, mas sempre fica uma dúvida: como ter acesso ao currículo completo deste servidor? O que se divulga, em geral, é apenas um resumo ou o que o próprio servidor já disponibilizou na internet, como no Linkedin, por exemplo (e que pode excluir a qualquer momento).
No fim do ano passado, o nosso editor Luiz Fernando Toledo obteve umadecisão favorável da Comissão Mista de Reavaliação de Informações (CMRI), a última e mais alta na hierarquia da Lei de Acesso à Informação, para que a Anvisa disponibilizasse o currículo de todos os seus funcionários comissionados.
A própria Anvisa tentou negar e segurar as informações por meses, até a determinação da CMRI, algo raríssimo. Segundo os dados do governo federal, de 328 recursos analisados pela comissão em 2018, só 4 foram deferidos (1,22%).
A LAI funciona praticamente como em decisões judiciais: a partir do estabelecimento de um precedente, todos devem segui-lo, a não ser que tenham razões muito específicas para mudar o entendimento dos órgãos de controle. Neste caso, o ponto de partida é que o órgão precisa ter os currículos em formato digital.
Quando for fazer um pedido com esse teor, basta citar o número dessa decisão. É importante pedir somente pelos currículos que estejam digitalizados, com a remoção dos dados pessoais com tarjas (como está previsto na decisão acima).
Importante: por ser algo complexo, recomendamos que você peça acesso aos currículos de uma só pessoa (ou de algumas poucas). Isso porque se pedir "todos", há sempre o risco de o órgão ter um elevado número de funcionários e responder que o seu pedido demanda “trabalho adicional”.
Para se proteger das negativas, já insira em seu pedido inicial as seguintes informações:
Nos casos em que não houver o currículo digitalizado, peçamos coerência: ok, não dá para escanear e tarjar 800 currículos. Mas e meia dúzia ou até uns 10? Não é assim tão impossível, né?
Se mesmo assim o órgão alegar que o pedido é desproporcional ou exige trabalho adicional, usem o trecho da revista da CGU reproduzido abaixo, pois o servidor deverá explicar concretamente por que é tão prejudicial assim pegar meia dúzia de papéis.
“É importante deixar claro, no entanto, que nem todo pedido de acesso à
informação que exige certo trabalho adicional de análise ou de
interpretação deve ser negado. Para que um órgão ou entidade pública se
negue a fornecer uma informação com base na parte inicial desse
dispositivo é necessário demonstrar que os procedimentos para a produção
da informação impactariam as suas atividades rotineiras de forma negativa,
da mesma forma que é feita nos pedidos desproporcionais. Assim, deve-se
fazer uma análise de ponderação com base nas vantagens e desvantagens
que esse trabalho pode auferir.”
Fonte: Aplicação da Lei de acesso à informação na Administração Publica Federal, 2ª Edição, pg. 43
OBS: Isto vale somente para órgãos do governo federal. Em Estados e municípios vale a tentativa, mas não há garantia. O site para fazer os pedidos é https://esic.cgu.gov.br/
OBS. 2: Este tutorial agora também está disponível em vídeo! Acesse o nosso canal no Youtube e compartilhe com seus colegas!
Conte-nos depois como usou esses documentos ou como os órgãos responderam!
Uma inspiração para quem se aventurar pelos currículos é o projeto Trump Town, da ProPublica, nos EUA. Eles serviram como base para que diversos veículos de imprensa americanos descobrissem casos de conflito de interesse nos comissionados do governo Trump. E foram premiados por isso.
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Ficamos muito felizes ao saber que o repórter de política do jornal A Gazeta Vinicius Valfré, em Vitória (ES), seguiu os passos da última edição de nossa newsletter e publicou uma interessante reportagem sobre as dívidas dos deputados de seu Estado.
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Governo nega acesso a estudos que embasam reforma da Previdência - Folha
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Este conteúdo saiu primeiro na edição #66 da newsletter da Fiquem Sabendo, a Don’t LAI to me. A newsletter é gratuita e enviada quinzenalmente, às segundas-feiras. Clique aqui e inscreva-se para receber nossas descobertas em primeira mão também.