Apoie a Fiquem Sabendo
Apoie agoraLéo Arcoverde
Trecho da avenida Mateo Bei, em São Mateus (zona leste de São Paulo), a campeã de furtos de veículos na capital paulista. Foto: Léo Arcoverde/Fiquem Sabendo O bairro de São Mateus, na zona leste de São Paulo, registrou 164 casos de furto e roubo a residência entre janeiro e abril deste ano (mais de uma ocorrência a cada dia, em média). Com isso, o distrito que faz divisa com o ABC paulista foi o líder _com folga_ do ranking de regiões da cidade com maior quantidade de crimes dessa natureza no primeiro quadrimestre de 2015. Vila Amália, na região do Horto Florestal, na zona norte, ficou com o segundo lugar do ranking, com 93 ocorrências. O Morumbi, na zona sul, vem logo atrás, com 92 casos de furto e roubo a residência registrados entre janeiro e abril. (Esse número leva em conta apenas os registros contabilizados pelo 34º DP (Morumbi), que abrange a região do Palácio dos Bandeirantes e da Vila Sônia, por exemplo; outra parte do Morumbi é coberta por outro distrito policial, o 89º DP (Portal do Morumbi), que contabilizou 37 casos nesse período.) É o que aponta levantamento feito pelo Fiquem Sabendo com base em dados do DAP (Departamento de Administração e Planejamento) da Polícia Civil do Estado de São Paulo obtidos por meio da Lei nº 12.527/2011 (Lei de Acesso à Informação). (Veja o ranking dos 20 bairros com mais casos de furto e roubo a residência na capital paulista durante os primeiros quatro meses de 2015 no infográfico abaixo.)
O aposentado Antonio André dos Reis, 85 anos, já teve a casa assaltada por 12 vezes; ele mora próximo ao largo de São Mateus, na zona leste de São Paulo. Foto: Léo Arcoverde/Fiquem Sabendo Morador da rua Ursa Menor, perto do largo de São Mateus, há 28 anos, o aposentado Antonio André dos Reis, 85 anos, sabe bem o que ter a casa invadida por ladrões. “A minha casa já foi assaltada 12 vezes. Os caras entram à mão armada, mesmo. Estamos perdidos”, diz. Ele mora no bairro há mais de seis décadas e diz que nunca se mudou porque, para ele, isso não diminuiria o risco de ele ser roubado. “Isso aqui já foi um lugar tranquilo. Hoje, ninguém sai à noite com medo dos ladrões.”
O comerciante Abdo Gandur, 67 anos, colocou a sua loja de utilidades domésticas à venda porque não aguenta mais ser roubado. Foto: Léo Arcoverde/Fiquem Sabendo Na tarde desta sexta-feira (26), um ladrão invadiu a loja de utilidades domésticas do comerciante Abdo Gandur, 67 anos, e fugiu em seguida, com cerca de R$ 200 que a vítima havia negociado ao longo do dia. Gandur espera que esse tenha sido o último dos muitos assaltos que têm sofrido nos últimos meses. “Os roubos aqui são quase diários. E não só é no comércio. O cliente que encosta o carro na avenida também é assaltado. Está demais.” Na última semana, o comerciante afixou na frente de sua loja um cartaz no qual informa a liquidação de seu estoque, com 20% de desconto, para que ele possa passar o ponto para outro comerciante. “Tenho outros comércios. Pago, por ano, R$ 35 mil em impostos. O que eu recebo em troca? Vou mudar de ramo.”
Todos os 20 bairros que figuram no ranking de regiões da cidade de São Paulo com maior quantidade de casos de furto e roubo a residência se localizam fora do centro expandido (área mais rica da capital paulista). Na avaliação do ex-secretário nacional da Segurança Pública José Vicente da Silva Filho, essa estatística desfaz a ideia equivocada que se tem de que os crimes de roubo são mais praticados nos bairros nobres da cidade. “Os bandidos roubam perto de onde moram por terem um círculo de conforto, proporcionado pelo conhecimento que têm da região. Eles não se arriscam para assaltarem em um local que não conhecem”, explica o especialista. “Infelizmente, na grande maioria dos casos, é pobre roubando pobre.” De acordo com Silva Filho, as polícias devem centralizar o seu trabalho de investigação e prevenção nas áreas de maior incidência de casos de furto e roubo a residência, em cada bairro, e combater o que ele chama de “ladrões mais atuantes”.
A cidade de São Paulo registrou entre janeiro e abril 1.429 casos de invasões a residências (1.195 furtos e 234 roubos). Isso representa uma média de um crime dessa natureza a cada duas horas. Nesse período, 32 das 93 delegacias da capital paulista registraram um ou mais casos de roubo; 37 delas registraram ocorrências de furto a residência. São Mateus lidera o ranking de furtos, com 155 casos registrados, enquanto Morumbi (34º DP) é o campeão de roubos, com 32 ocorrências contabilizadas.
O secretário estadual da Segurança Pública, Alexandre de Moraes; ele prometeu reforçar o policiamento na periferia de São Paulo ao tomar posse no cargo, no início deste ano. Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil (25/12/2015) Em dezembro de 2014, ao ser anunciado como novo secretário estadual da Segurança Pública, o advogado constitucionalista e ex-promotor de Justiça Alexandre de Moraes disse que o reforço do policiamento dos bairros periféricos da capital paulista seria uma das prioridades de sua gestão. Em entrevista ao jornal “O Estado de S.Paulo”, Moraes declarou: “Hoje o policiamento não se faz só no centro expandido. Se faz também na periferia. Isso que tem de ser otimizado”.
A Constituição Federal de 1988 prevê, em seu art. 144, que a segurança pública corresponde a um “dever do Estado” e um “direito e responsabilidade de todos” e que ela é exercida “para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio”. O Código Penal (Decreto-Lei nº 2.848/1940) prevê, em seu art. 155, uma pena de reclusão de dois a quatro anos e multa para quem comete o crime de furto. Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas (situação comum aos casos de invasão a residência) ou mediante escalada, a pena cominada é mais alta: reclusão de dois a oito anos e multa. Já em seu art. 157, o Código Penal prevê para o roubo uma pena de reclusão de quatro a dez anos e multa. Ela é aumentada de um terço em situações como o concurso de dois ou mais suspeitos ou emprego de arma de fogo.
Procurada nesta sexta-feira (26), a assessoria de imprensa da Secretaria Estadual da Segurança Pública não se manifestou até a publicação desta reportagem.
Quer fazer parte da batalha pela transparência pública?
Todas as republicações ou reportagens feitas a partir de dados/documentos liberados pela nossa equipe devem trazer o nome da Fiquem Sabendo no início do texto, com crédito para: “Fiquem Sabendo, agência de dados especializada no acesso a informações públicas”. Acesse aqui o passo a passo de como creditar nas publicações.
Este conteúdo saiu primeiro na edição #66 da newsletter da Fiquem Sabendo, a Don’t LAI to me. A newsletter é gratuita e enviada quinzenalmente, às segundas-feiras. Clique aqui e inscreva-se para receber nossas descobertas em primeira mão também.