Ônibus trafega em faixa exclusiva da rua Itaberaba, próximo ao terminal de ônibus Vila Nova Cachoeirinha, na zona norte de São Paulo. Foto: Léo Arcoverde/
Fiquem Sabendo
A velocidade média dos ônibus ficou abaixo da alcançada por uma galinha (14,48 km/h) em pelo menos três dias, entre 1º e 10 de maio, em 77 das 332 faixas exclusivas existentes na cidade de São Paulo no sentido Bairro/Centro.
Essa baixa velocidade foi registrada durante os picos da manhã (7h às 10h) e da tarde (17h às 20h) em praticamente um quarto das faixas exclusivas (23%) existentes na capital paulista nesse sentido.
É o que aponta levantamento feito pelo
Fiquem Sabendo com base em dados da
SPTrans (empresa municipal de transporte) obtidos por meio da
Lei nº 12.527/2011 (Lei de Acesso à Informação).
Na faixa exclusiva entre a rua Itaberaba e avenida Imirim, zona norte, por exemplo, nos dez primeiros dias do mês passado, a velocidade média dos ônibus variou de 8,7 km/h a 12,5 km/h durante o pico da manhã. Entre as 17h às 20h, as velocidades registradas pelos coletivos foram ainda mais baixas: variaram de 7,5 km/h a 11,4 km/h.
Localizada perto do terminal de ônibus Vila Nova Cachoeirinha, essa faixa exclusiva é um exemplo das dezenas de pistas destinadas a ônibus nas quais os coletivos não conseguem desenvolver velocidades próximas às médias registradas por eles nesses trechos segregados, que é de 20 km/h a 25 km/h, segundo a SPTrans. (Veja no infográfico a relação com todas as faixas exclusivas onde, por três dias, no início de maio, a velocidade média dos ônibus ficou abaixo dos 14,48 km/h.)
A reportagem só incluiu nessa relação as faixas exclusivas onde por três vezes ou mais a velocidade média dos coletivos ficou abaixo dos 14,48 km/h. Dessa forma, não levamos em conta situações ocasionais em que ônibus de linhas habitualmente rápidas ficam presos em um congestionamento devido a um acidente, por exemplo.
A velocidade alcançada por uma galinha consta de diversas publicações científicas, e pode ser conferida em sites como o
Infoplease, do grupo de ensino e mídia britânico
Pearson (dono do
Financial Times).
Na volta para casa, situação é parecida
Se na ida para o trabalho a velocidade média do ônibus é inferior à alcançada por uma galinha em 77 faixas exclusivas, no sentido Centro/Bairro, caminho de volta do serviço do paulistano, essa situação foi verificada em 65 pistas destinadas aos coletivos.
Nesse sentido, há 309 faixas exclusivas na cidade de São Paulo.
Isso quer dizer, na prática, que a velocidade média dos ônibus, por pelo menos três dias, entre 1º e 10 de maio, ficou abaixo dos 14,48 km/h (veja a relação das vias no infográfico abaixo).
“Há casos em que a eficiência operacional é baixa”
Na avaliação do especialista em engenharia de transportes
Horácio Figueira, mestre pela USP, há locais em que a eficiência operacional das faixas exclusivas é baixa.
“Muitas vezes, isso ocorre porque o próprio viário é muito ruim. As pistas são estreitas e há um fluxo muito grande de veículos no local onde a faixa foi instalada, que não dá para ser desviado”, explica.
Para Figueira, mesmo assim, a prefeitura deve insistir na implementação de novas faixas exclusivas na cidade. “Se elas não existissem, nos locais onde a velocidade média está em 8 km/h, ela seria mais baixa ainda.”
Na opinião do especialista, no entanto, há faixas exclusivas que podem ser melhoradas, por meio de uma série de medidas, como a implantação de um sistema no qual os semáforos são acionados pelos ônibus, e dão preferência a esse tipo de veículo, e a criação de rotas alternativas para carros que trafegam por trechos muito utilizados pelos coletivos.
Por que isso é importante?
A
Lei nº 12.587/2012, que instituiu as diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana, define, em seu art. 5º, inciso IV, como um dos princípios do transporte público “a eficiência, a eficácia e a efetividade” de quem presta esse serviço.
Essa mesma lei prevê, em seu art. 14, inciso I, que é direito do usuário do Sistema Nacional de Mobilidade Urbana “receber o serviço adequado”.
Ainda de acordo com essa lei, o Sistema Nacional de Mobilidade Urbana “é o conjunto organizado e coordenado dos modos de transporte, de serviços e de infraestruturas que garante os deslocamentos de pessoas e cargas no território do Município”. Isso inclui, por exemplo, os ônibus que circulam na capital paulista.
Quadro geral é favorável, diz SPTrans
A SPTrans (empresa municipal de transporte) disse em nota enviada por sua assessoria de imprensa que os trechos que apontam uma velocidade aquém do desejável “são estudados pelas equipes técnicas da empresa e da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) justamente para que ações específicas sejam tomadas para sanar esse quadro”.
Segundo a empresa, os dados levantados pela reportagem “são uma parte importante de um todo, estão sendo monitorados e merecerão atenção das empresas”. “Isto implicaria em eliminação de eventuais interferências nas respectivas vias, reprogramação semafórica, reavaliação das partidas dos coletivos e de reorganização de linhas, por exemplo.”
De acordo com a SPTrans, “o quadro geral do desempenho dos ônibus nas faixas exclusivas tem sido bastante favorável e já atingiu o patamar desejável de velocidade média, entre 20 e 25 quilômetros por hora”.
Há faixas exclusivas, diz a SPTrans, que “têm tido um desempenho acima do previsto”. “Destacam-se a do eixo composto das avenidas Auro Soares de Moura Andrade/Paulo VI/Sumaré e a da marginal Tietê, com 46,1 km/h e 41,4 km/h de média no pico da manhã, respectivamente.”
Ainda conforme a SPTrans, dados da CET também apontam que a velocidade média praticada pelos coletivos nas faixas têm tido aumentos significativos. Uma amostragem feita entre 13 de janeiro e 31 de outubro de 2014, indica um crescimento de 67,5% na velocidade média, com elevação de 12,1 Km /h, antes da implementação, para 20,3 Km/h, após o início da operação. “Toda essa iniciativa resultou na economia de quatro horas semanais aos usuários de ônibus em suas viagens.”