Árvore cai na rua Mário Guastini, em Pinheiros, na zona oeste; região foi a que registrou a maior quantidade de incidentes dessa natureza entre janeiro e agosto deste ano. Foto: Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas (23/12/2015)
O número de quedas de árvores na cidade de São Paulo aumentou 77% entre janeiro e outubro de 2014 e o mesmo período deste ano. Em números absolutos, o salto foi de 1.401 para 2.480 casos.
2015 tem registrado, em média, uma queda de árvore a cada três horas. Entre janeiro e outubro do ano passado, houve uma ocorrência a cada cinco horas.
É o que aponta levantamento inédito feito pelo
Fiquem Sabendo com base em dados da
Secretaria Municipal de Coordenação das Subprefeituras obtidos por meio da
Lei Federal nº 12.527/2011 (Lei de Acesso à Informação).
De acordo com as informações disponibilizadas pela gestão do prefeito
Fernando Haddad (PT), no comparativo, a quantidade de quedas de árvores cresceu nas áreas de 28 das 32 subprefeituras da capital paulista. Em algumas delas, a alta percentual no número de incidentes foi bem maior do que a verificada em toda a cidade.
Região com maior quantidade de quedas de árvores em São Paulo neste ano, com 307 casos registrados entre janeiro e outubro (um a cada dia, em média), a área da Subprefeitura de Pinheiros, na zona oeste, contabilizou uma alta de 234% no número de incidentes dessa natureza em relação ao mesmo período de 2014, quando houve 92 ocorrências.
Segunda subprefeitura com maior número de quedas de árvore contabilizada no período, com 236 ocorrências, a do Ipiranga, na zona sul, teve uma alta percentual ainda maior: de 269%. Entre janeiro e outubro de 2014, essa região havia registrado 64 casos.
Na região da Subprefeitura da Sé (região central), a alta foi de 78% (de 82 para 146 casos). (Veja o detalhamento das informações relativas às dez subprefeituras que registraram mais ocorrências dessa natureza no infográfico abaixo.)
Entre as subprefeituras que registraram diminuição na quantidade de quedas de árvores no período, estão a da Casa Verde (de 50 para 37 casos), na zona norte, e a do Itaim Paulista (de 30 para 29), na zona leste.
Arborização da cidade não foi planejada, diz especialista
Na avaliação de Sérgio Brazolin, biólogo e pesquisador em arborização urbana do
IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), um dos fatores que influenciaram o aumento das quedas de árvores na cidade nos últimos meses é a presença cada vez maior, dado o passar do tempo, de árvores antigas, de grande porte, fragilizadas por questões como o apodrecimento por cupins.
“Alguns dos bairros mais arborizados da cidade, como Pinheiros, Alto da Lapa e Jardins, foram planejados há cerca de 70 anos e, por isso, têm uma arborização muito antiga, que não foi planejada”, explica Brazolin. “Com isso, dependendo da espécie, muitas dessas árvores, que já teriam de ser substituídas, acabam caindo durante uma tempestade.”
De acordo com o especialista, outro fator que influenciou a alta do número de queda de árvores foi a ocorrência, neste ano, de tempestades com ventos mais fortes do que o habitual. “Tivemos tempestades em que os ventos chegaram a 90 km/h, que reflete uma mudança climática que não ocorre só em São Paulo, mas sim em todo o mundo.”
Para Reinaldo Dias, especialista em Meio Ambiente e professor da
Universidade Mackenzie Campinas, o aumento do número de quedas de árvores exige planejamento no plantio de novas árvores por parte da prefeitura. “Não se deve plantar árvore indiscriminadamente. Cada espécie tem uma função. As árvores são importantes para a melhoria da qualidade de vida porque, entre outros benefícios, diminuem as temperaturas nas ilhas de calor da cidade.”
Segundo ele, um trabalho de monitoramento permanente das árvores da cidade é essencial para evitar novas quedas.
Por que isso é importante?
A
Constituição Federal de 1988 prevê, em seu artigo 225, que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.
As árvores urbanas desempenham funções importantes para os cidadãos e o meio ambiente, tais como a elevação da permeabilidade do solo (e a diminuição dos riscos de enchentes) e o controle da temperatura e da qualidade do ar. Até mesmo a melhoria da paisagem urbana decorrente das áreas verdes é um fator que aumenta a qualidade de vida da população, segundo especialistas.
Ações de prevenção têm sido implementadas, afirma prefeitura
A Secretaria Municipal de Coordenação das Subprefeituras disse por meio de nota enviada por sua assessoria de imprensa que “vem promovendo ações no sentido de prevenir as ocorrências de quedas de árvores e galhos na cidade de São Paulo, principalmente no período chuvoso”. “Desta forma, foi lançado em agosto o Plano Intensivo de Manejo Arbóreo (PIMA), que tem como objetivo agilizar os serviços de podas e remoções para reduzir o risco de quedas de espécies nas vias da cidade.”
Segundo a secretaria, esse plano “focará suas ações nas subprefeituras da Sé, Pinheiros, Butantã, Santo Amaro, Vila Mariana, Ipiranga, Lapa e Mooca, que juntas têm 42% das árvores do viário paulistano, mas respondem por 62% das quedas registradas nos últimos dois anos”.
De acordo com a pasta, as equipes municipais que realizam vistorias técnicas nas árvores da cidade foram reforçadas. A ideia da atual gestão é “intensificar as ações das equipes de trabalho na solução dos eventuais problemas verificados nas espécies”.
A secretaria afirmou que, apesar desse esforço, “eventos imprevisíveis podem ocorrer, como, por exemplo, a tempestade que atingiu a cidade na madrugada do dia 29 de dezembro de 2014, quando ventos de quase 100 km/h derrubaram centenas de árvores, e a forte chuva do último dia 8 de setembro deste ano, a maior já registrada em um mês de setembro desde 1995, com média de precipitações de 69,3 mm e rajadas de vento de até 83 km/h, de acordo com o CGE”.
A pasta informou ainda que firmou parceria com a concessionária AES Eletropaulo, com duração de dois anos, que prevê um procedimento para manejos de espécies que possam interferir na rede elétrica. Esse tipo de incidente provoca 50% das interrupções do fornecimento de energia na cidade, segundo a secretaria. O acordo prevê que a concessionária faça podas ou remoções de árvores apontadas pelo município, com uma autorização única e anual, e não mais árvore por árvore pedida para a subprefeitura. “A previsão é que a concessionária faça cerca de 200 mil podas em até 180 dias –a partir da data da assinatura do convênio, no final de agosto - e que atenda às novas solicitações em até 90 dias.”