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MEIO AMBIENTE

É aceitável que a milionária Alphaville despeje 70% de seu esgoto sem tratamento no rio Tietê?

Léo Arcoverde

Publicado em: 23/09/2016
Atualizado em: 10/03/2023
É aceitável a milionária Alphaville despeje 70% de seu esgoto sem tratamento no rio Tietê? Espuma gerada pela poluição do rio Tietê invade pista na cidade de Pirapora do Bom Jesus, na região metropolitana de São Paulo? Foto: Rafael Pacheco (22/06/2015) Monitoramento do projeto Observando o Tietê, divulgado nesta quinta-feira (22) pela ONG Fundação SOS Mata Atlântica, mostra que a mancha de poluição do rio Tietê diminuiu 11% neste ano na comparação com 2015, mas ainda se estende por 137 km. Há um ano, o trecho do rio no qual o índice de qualidade da água varia entre ruim e péssimo era de 154,7 km. De acordo com o estudo, atualmente, o trecho do rio morto banha sete cidades: Itaquaquecetuba, São Paulo, Osasco, Barueri, Santana do Parnaíba, Pirapora do Bom Jesus e Cabreúva (única do grupo fora da região metropolitana). Dados da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) obtidos pelo Fiquem Sabendo com base na Lei de Acesso à Informação mostram os índices de tratamento de esgoto coletado desses sete municípios (veja no infográfico abaixo): É aceitável a milionária Alphaville despeje 70% de seu esgoto sem tratamento no rio Tietê?   O esgoto não tratado é descartado no meio ambiente sem tratamento. Dado o fato de o subsolo da Grande São Paulo esconder mais de 300 cursos d'água, é grande a probabilidade de isso desembocar no rio Tietê.

Retrato de desigualdade, mancha banha do 9º ao 509º IDH do Estado

Há uma profunda desigualdade socioeconômica ao longo do atual trecho morto do rio Tietê. Trecho do início da mancha de poluição, Itaquaquecetuba possui um IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de 0,714, o que coloca a cidade na posição de número 509 dentre os 645 municípios paulistas. Já Santana de Parnaíba tem o 9º mais alto IDH do Estado, 0,814. A capital paulista não fica muito longe: é a 15ª colocada, com 0,805. Barueri é o 47º melhor IDH paulista, com 0,786. Santana de Parnaíba e Barueri são as cidades da Grande São Paulo que abrigam a região de Alphaville, megaloteamento de alto padrão. De acordo com a Sabesp, em Santana de Paraíba, 70% do esgoto coletado não é tratado. Já em Barueri, esse percentual é de 75%. Os dados de IDH são do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), de 2010. Os índices variam de zero até um.

Sabesp cortou investimento em limpeza de córregos

Reportagem do Fiquem Sabendo publicada no último dia 9 mostrou que o investimento da Sabesp na despoluição dos córregos da cidade de São Paulo, parte fundamental do projeto de recuperação dos rios Tietê e Pinheiros, sofreu cortes drásticos nos últimos anos. Entre 2014 e 2015, anos em que a estatal teve o caixa fortemente afetado pela crise hídrica, o gasto com o Programa Córrego Limpo recuou de R$ 16,607 milhões (valor corrigido pela inflação) para R$ 5,737 milhões, o que equivale a uma queda de 66%. De acordo com as informações disponibilizadas pela estatal controlada pela gestão do governador Geraldo Alckmin, os investimentos no programa realizados nos últimos dois anos foram os mais baixos registrados pela Sabesp desde 2008. O Córrego Limpo foi iniciado em 2007 e, até o ano passado, contabilizou um total de 220,867 milhões em investimentos. O Córrego Limpo é um amplo programa, que abrange ações de Sabesp e da prefeitura. A estatal é responsável pela implementação de novas redes esgotos dessas regiões. Já a prefeitura remove e reassenta famílias de áreas de risco. O programa conta ainda com um trabalho de monitoramento da qualidade da água dos córregos.

Despoluição é gradual e depende de ações dos municípios, afirma Sabesp

Procurada, a Sabesp informou por meio de nota enviada por sua assessoria de imprensa que o processo de despoluição do rio Tietê é gradual e depende não apenas das ações da companhia. Leia, abaixo, a íntegra da nota: "A Sabesp informa que o processo de despoluição do Rio Tietê é gradual e depende não apenas das ações da companhia como também das prefeituras de municípios da bacia. Segundo a Cetesb, Guarulhos, por exemplo, coleta 84% de esgoto nas áreas regulares e trata apenas 1,38%. Com a crise hídrica entre 2014 e 2015, a Sabesp foi obrigada também a aumentar o investimento em produção de água e teve de reduzir o ritmo em obras de saneamento. Outro efeito da maior seca da história foi a baixa do nível dos rios, o que dificultou a diluição do esgoto. A Empresa lembra que, com a primeira e segunda fases (1992-2008), o esgoto gerado por uma população de 8,5 milhõs de pessoas passou a ser tratado. Ou seja, em menos de 20 anos, a Sabesp passou a tratar os dejetos de uma população equivalente à de Londres. Quando o programa teve início, o sistema de saneamento então existente era capaz de remover apenas 19% da carga orgânica dos esgotos gerados na RMSP; todo o resto ia para os rios da Bacia do Tietê. Hoje, 87% do esgoto são coletados e 68%, tratados. A terceira fase do Projeto Tietê foi iniciada em 2010 e está em andamento. Uma das principais obras do Projeto Tietê, a ampliação da Estação de Tratamento de Esgotos Barueri contribuirá para a despoluição dos rios Tietê e Pinheiros, além de diversos córregos da zona oeste da capital e da Grande São Paulo. Em fevereiro, quando a primeira fase estiver pronta, a capacidade da ETE, que já trata esgoto de 4,5 milhões de pessoas, saltará dos atuais 9.500 litros por segundo de esgoto tratado para 11.000 litros por segundo. Quando a segunda e última fase da ampliação estiver concluída, em maio de 2017, a unidade tratará 16.000 litros por segundo e passará a atender mais de 3 milhões de moradores de São Paulo, Barueri, Carapicuída, Cotia, Embu da Artes, Itapevi, Jandira, Osasco e Taboão da Serra, totalizando 7,5 milhões de pessoas."

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