Em 2015, os vazamentos nas tubulações da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) causaram um desperdício de 321,7 milhões de metros cúbicos de água.
Como cada metro cúbico corresponde a 1.000 litros de água, isso quer dizer que, em 12 meses, 321,7 bilhões de litros de água foram perdidos _parte desse desperdício se deu enquanto muitos paulistanos sofriam com a falta de água em casa.
Esse número representa uma média mensal de 26,8 bilhões de litros de água desperdiçados a cada mês.
O que a Sabesp classifica como perda comercial, provocado por “gatos” e problemas em hidrômetro, por exemplo, foi responsável pela perda de 13,7 milhões de metros cúbicos em 2015.
Já o bônus da conta de água, concedido durante a crise hídrica a consumidores que diminuíram o consumo em patamares estipulados pela empresa, chegou a poupar, em um único mês, 16,5 bilhões de litros de água.
Todas essas informações foram obtidas pelo Fiquem Sabendo por meio da Lei Federal nº 12.527/2011 (Lei de Acesso à Informação).
Elas representam o agrupamento de uma série de dados utilizados pelo Fiquem Sabendo em reportagens publicadas ao longo da crise hídrica, que foram complementados com novas informações.
Foi a partir do cruzamento desses dados que o Fiquem Sabendo elaborou a seção Contadores. A sua proposta é facilitar a compreensão de temas de interesse geral por meio da apresentação de dados que o poder público não divulga.
Grande São Paulo possui 64 mil quilômetros de tubos enterrados
A região metropolitana de São Paulo possui cerca de 64 mil quilômetros de tubos da Sabesp enterrados. Isso equivale a uma volta e meia em torno da Terra.
Esse dado consta de artigo do presidente da Sabesp, Jerson Kelman, publicado em janeiro no jornal “Folha de S. Paulo”, no qual ele admitiu que a redução de pressão na rede de distribuição da estatal provoca a falta de água em imóveis localizados nas regiões mais altas da capital paulista. No texto, ao tratar desse assunto, ele argumentou: “Trata-se de uma medida preventiva para evitar um mal maior, que seria a exaustão da pouca água ainda armazenada nos grandes reservatórios”.
Número de vazamentos surpreendeu pesquisadora de Stanford
Convidada pelo governo de São Paulo a vir ao Brasil para ajudar a encontrar soluções para a atual crise, em dezembro de 2014, a pesquisadora da Universidade de Stanford, na Califórnia, Newsha Ajami, surpreendeu-se com a quantidade de água que não chega às torneiras dos paulistanos devido aos vazamentos existentes nas tubulações da Sabesp.
Em entrevista ao jornal “Folha de S.Paulo”, Newsha afirmou: “O sistema do Estado tem cerca de 40% a 45% de vazamentos, então eu me concentraria em aumentar a eficiência ao invés de racionar”.
Ao falar sobre o que deveria ser feito para contornar a atual crise no curto prazo, ela respondeu: “A primeira medida deveria ser consertar os vazamentos”.
Por que isso é importante?
A Lei nº 9.433/97 (Política Nacional de Recursos Hídricos) prevê que a água “é um bem de domínio público” e que um dos objetivos dessa política é “assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos”.
Essa mesma lei federal determina ainda que “a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades”.
Em julho de 2010, a Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas) reconheceu o acesso a uma água de qualidade e a instalações sanitárias adequadas como um direito humano.
Combate às perdas é um programa permanente, afirma Sabesp
Quando questionada sobre as perdas físicas à época da produção de reportagens anteriores sobre o assunto já publicadas pelo Fiquem Sabendo, a Sabesp disse por meio de nota enviada por sua assessoria de imprensa que a ação de combate às perdas é um programa permanente da empresa e que, nos últimos dez anos, o índice de perdas físicas foi reduzido em 10 pontos percentuais.
Leia, abaixo, a íntegra da nota que a empresa enviou à reportagem:
“A ação de combate às perdas é um programa permanente da Sabesp. O total perdido em março de 2014 entre perda real (vazamentos) e perda aparente (comerciais) é de 30,8 % do total produzido. Já em dezembro de 2015, o índice ficou em 27,1 %. A Sabesp tem aumentado recursos aplicados no combate a perdas, mesmo antes da crise hídrica. Nos últimos dez anos, o índice de perdas físicas por vazamentos foi reduzido em 10 pontos percentuais, estando hoje em 18%, próximo aos 16% do Reino Unido.”