O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PDDB), observa megatatuzão em canteiro de obras da linha 5-lilás. Foto: Edson Lopes Jr./A2 Fotografia (28/01/2014)
Apontada nesta segunda-feira (26) pela Polícia Federal como uma obra vinculada ao pagamento de propina por parte da
empreiteira Odebrecht, a linha 2-verde (Vila Madalena/Vila Prudente) do
metrô de São Paulo é a campeã de panes do sistema metroviário neste ano.
Mesmo transportando menos da metade dos passageiros das duas linhas mais movimentadas do metrô paulistano (a 1-azul e a 3-vermelha), a linha 2 registrou 17 falhas graves entre janeiro e julho. É o que aponta levantamento feito pelo
Fiquem Sabendo com base em dados da empresa de transporte metropolitano por meio da
Lei de Acesso à Informação.
No mesmo período, a linha 3-vermelha registrou 15 panes, a 1-azul, 11, a 15-prata, 2 e a 5-lilás, 1 (veja no quadro abaixo).
Propina está documentalmente comprovada, afirma PF
A citação da construção da linha 2-verde como uma das vinculadas a propinas pagas pela empreiteira Odebrecht foi feita nesta segunda-feira (26) pelo delegado da Polícia Federal Filipe Hille Pace, que faz parte da equipe da Lava Jato no Paraná.
As declarações se deram durante a entrevista coletiva concedida horas após a prisão de Antonio Palocci, em São Paulo. Ele é suspeito de propiciar vantagens à empreiteira baiana em troca de propina. A defesa dele nega a acusação.
Palocci é o principal alvo da 35ª fase da Lava Jato, batizada de Omertà (como é chamada a lei do silêncio que impera na máfia italiana).
Última inauguração da linha 2-verde foi feita Alberto Goldman em 2010
A
última inauguração de estação da linha 2-verde, a da Vila Prudente, na zona leste, foi feita em agosto de 2010 pelo então governador, Alberto Goldman (PSDB). Ele foi sucesso de José Serra, que, meses antes, havia deixado o comando do Palácio dos Bandeirantes para disputar a eleição para presidente da República contra a petista Dilma Rousseff.
Um ano antes da inauguração, a obra da estação Vila Prudente, feita pela Odebrecht, teve
um problema que obrigou cinco famílias a deixar suas casas, na zona leste.
Por que isso é importante?
A
Lei nº 12.587/2012, que instituiu as diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana, define, no seu art. 5º, inciso IV, como um dos princípios do transporte público “a eficiência, a eficácia e a efetividade” de quem presta esse serviço.
Essa mesma lei diz, no seu art. 14, inciso I, que é direito do usuário do Sistema Nacional de Mobilidade Urbana “receber o serviço adequado”.
Segundo essa lei, o Sistema Nacional de Mobilidade Urbana “é o conjunto organizado e coordenado dos modos de transporte, de serviços e de infraestruturas que garante os deslocamentos de pessoas e cargas no território do Município”.
Metrô está à disposição para colaborar com investigação, diz secretaria
Procurada, a Secretaria Estadual dos Transportes Metropolitanos disse por meio de nota que "a relação do governo do Estado e seus contratados para a realização de obras ou prestação de serviços é baseada nos princípios legais e com aprovação de suas contas pelos órgãos competentes". "A EMTU [também citada pela Polícia Federal] e o Metrô não podem comentar mensagens cifradas obtidas por uma operação que ainda está em curso e que foram divulgadas pela imprensa. As empresas, contudo, estão à disposição para colaborar com a Força Tarefa da Lava Jato e esclarecer todas e quaisquer informações."
Com relação às panes (assunto já tratado em reportagem publicada pelo
Fiquem Sabendo em julho), o metrô de São Paulo enviou a seguinte nota:
“Todos os sistemas de metrô do mundo estão sujeitos a falhas e elas são proporcionais ao número de viagens realizadas, à quilometragem percorrida e à quantidade de passageiros transportados. Diariamente, o Metrô de São Paulo transporta cerca de 4 milhões de passageiros, realizando mais de 3.500 viagens, com 60 mil quilômetros percorridos, em média. Somente no primeiro semestre de 2016, os trens do Metrô percorreram 173,5 mil quilômetros a mais do que no mesmo período de 2015.
Ressaltamos que a quantidade de incidentes notáveis se mantém nos padrões internacionais de qualidade e segurança, mostrando que o Metrô de São Paulo é um sistema de transporte regular, confiável e seguro, considerado internacionalmente como um dos dez melhores do mundo.”
A Odebrecht informou que
não se manifestará sobre o caso.