Foto: Elza Fiúza/AB
Tenho uma amiga arquiteta que está fazendo um mestrado numa faculdade aqui de São Paulo sobre um projeto do Minha Casa Minha Vida executado em uma cidade do interior de Pernambuco. Uma das muitas análises de sua pesquisa _ainda em andamento_ é comparar o programa com ações desenvolvidas pelo BNH (Banco Nacional de Habitação).
Há alguns meses, quando conversávamos, comentei que uma das propostas do
Fiquem Sabendo na área de habitação é sempre divulgar quantas unidades habitacionais populares têm sido entregues por órgãos como o Ministério das Cidades, CDHU (Governo do Estado de São Paulo) e Cohab (Prefeitura de São Paulo). Nessa nossa conversa, fiz-lhe a seguinte pergunta:
- Nas décadas de 60 e 70, quantas unidades o governo federal entregava por meio do BNH?
Ela mencionou que já lera uma série de publicações sobre o banco, criado em 1964 e extinto de 1986, e que a informação confiável mais próxima a essa que encontrou foi o número de contratos de financiamento realizados em apenas parte desse período.
Há algumas semanas, perguntei à Secretaria Municipal da Habitação de São Paulo, via Lei de Acesso à Informação, quantas unidades habitacionais populares tinham sido entregues anualmente pela prefeitura ao longo dos últimos anos. A resposta que recebi que só há dados disponíveis de 2009 para cá, o que me fez lembrar da conversa com a minha amiga arquiteta. Como somos carentes de informação. Não se tem acesso aos dados mais básicos!
Conhecer detalhadamente os dados da habitação no âmbito municipal daria a possibilidade de o eleitor saber, por exemplo, quem, entre Marta Suplicy (prefeita entre 2001 e 2004) e seu vice, Andrea Matarazzo, secretário das gestões José Serra/Gilberto Kassab (2005/2012) e Fernando Haddad, atual prefeito, entregou mais unidades de habitação à população de baixa renda.
A habitação é um exemplo que podemos aplicar a várias outras áreas. Em algumas delas, como saúde e educação, há uma profusão de números em relação a alguns temas, como a quantidade de pessoas na fila de exames nos postos de saúde, e a ausência de outras informações básicas, como o real impacto da crise econômica nos atendimentos realizados pelo SUS.
Em um contexto de pouca clareza sobre quase tudo que diz respeito aos serviços públicos, a retórica da luta política se sobressai. E aí vale qualquer coisa. Em São Paulo, o candidato líder com folga nas pesquisas de intenções de voto se diz, por exemplo, um dos maiores especialistas do mundo em direito do consumidor. Isso mesmo, do mundo! O que isso tem a ver com os problemas da cidade? Isso não vem ao caso.
No último dia 22, o debate da TV Bandeirantes mostrou que alguns candidatos claramente não fazem a menor ideia da dimensão de alguns problemas vividos pelos paulistanos. A questão não é apenas de imprecisão. Chuta-se um número para cada área. Verticalização de creches para um lado, construção de prédios mais altos (de quantos andares?) para enfrentar o
deficit habitacional para o outro. Fala-se de tudo sem o menor constrangimento.
No caso de São Paulo, a agonia decorre do fato mais do que provável de não há como o picadeiro ser desmontado no dia 2 de outubro (data da votação do primeiro turno). Na maior cidade do país, a festa da democracia vai até o dia 30.