Taxistas protestam contra a atuação do aplicativo Uber em São Paulo, no viaduto do Chá, centro da cidade. Foto: Paulo Pinto/Fotos Públicas (11/11/2015)
Grande parte da propaganda eleitoral de candidatos à Prefeitura de São Paulo é dedicada à indústria da multa. A maioria promete revogar a diminuição das velocidades nas marginais. O que será do Uber a partir de janeiro?
O caso mais explícito é o da ex-prefeita Marta Suplicy. Com 21% das intenções de voto na pesquisa Datafolha divulgada nesta sexta-feira (empatada tecnicamente com Celso Russomanno, com 26%), ela aparece na TV no banco de trás de um táxi, simulando uma corrida cuja promessa transmitida ao eleitor é acabar com os “radares-pegadinha”.
No dia 1º, Russomanno perdeu a cabeça ao ser perguntado por Gilberto Dimenstein se a sua posição em relação ao Uber não seria uma traição ao consumidor. “O Uber é ilegal e quebrou cidades no mundo inteiro”, esbravejou o candidato do partido controlado pela Igreja Universal do Reino de Deus.
Agora terceiro colocado nas pesquisas, o tucano João Doria defende o Uber como alternativa à crise econômica do país.
Com 9% das intenções de voto e vendo os adversários se distanciando, Fernando Haddad (PT) fala de feitos de sua gestão, como as universidades nos CEUs (Centros de Educação Unificada), o bilhete único mensal e o hospital da Vila Santa Catarina.
A impressão é que o que está em jogo não é o comando de uma cidade que:
- possui 52.234 crianças de até um ano e oito meses fora da creche, impedindo que mulheres, principalmente na periferia, trabalhem;
- na zona leste, tem 1,3 leito hospitalar por 1.000 habitantes, índice inferior ao da República do Congo (1,6), Jamaica (1,7) e Guiné Equatorial (2,2);
- faltam nas UBSs (Unidades Básicas de Saúde) 775 clínicos-gerais, pediatras e ginecologistas. Isso sem contar o deficit de outras especialiadades;
- em 2014, registrou mais de 100 mil casos de dengue, muitos deles associados a uma crise de falta de água sem precedente;
- em 2015, o investimento na limpeza dos córregos da cidade, fundamental para a recuperação dos rios Tietê e Pinheiros, foi o mais baixo desde 2008.
- quase 2 milhões de seus habitantes moram em áreas precárias ou comprometem mais de 30% de sua renda com o aluguel.
Todos esses dados são públicos e foram temas de reportagens publicadas pelo Fiquem Sabendo nos últimos meses.
Nada disso, no entanto, é páreo para a indústria da multa ou para o destino, na cidade, de um aplicativo com valor de mercado superior ao orçamento municipal. Afinal, um fantasioso direito à velocidade é mais importante do que o direito à cidade? É como se o eleitor fosse escolher, no dia 2 de outubro, o presidente do sindicato dos taxistas de São Paulo e não o próximo prefeito.
Em tempo: os cerca de 36 mil taxistas da praça paulistana representam 0,4% dos 8,8 milhões de eleitores da cidade.