Segundo dados da
Controladoria-Geral da União tabulados pelo
Fiquem Sabendo, entre junho de 2017 e maio de 2018, um total de 73.281 documentos foram classificados como sigilosos.
Um único órgão foi responsável por quase todos eles – o
Comando da Marinha (CMAR) – com 70.035 classificações feitas no período. Em segundo lugar, aparece o
Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI), com 910 pedidos. Ou seja, a
Marinha é a campeã absoluta em sigilo, responsável por 96% dos pedidos de sigilo.
O selo ultrassecreto, pivô da polêmica nas redes sociais, foi dado somente a 43 destes documentos – 39 deles pedidos pelo
Banco Central do Brasil. Os demais foram pedidos pela
Universidade Federal de Mato Grosso (3) e
Ministério da Indústria,
Comércio Exterior e Serviços (MDIC).
Entenda a mudança causada pelo Decreto nº 9.690/2019, que altera a Lei de Acesso
Nesta quinta-feira (24), a
Lei de Acesso à Informação entrou mais uma vez para o
Trending Topics do Twitter. O motivo: uma decisão do governo federal de ampliar o número de servidores que podem impor sigilo sobre documentos públicos. O
Decreto nº 9.690/2019 foi assinado pelo presidente em exercício, General Hamilton Mourão. Mas afinal, como isso funciona? O
Fiquem Sabendo teve acesso à um pedido de classificação de informação.
Uma informação classificada é aquela que o poder público considera que pode colocar em risco a segurança da sociedade ou do Estado. Existem três tipos de
classificação de informação sigilosa: reservada (5 anos), secreta (15 anos) ou ultrassecreta (25 anos), conforme o risco.
Até antes da mudança na legislação, somente o presidente, vice-presidente, ministros de Estado, comandantes da Marinha,
Exército e
Aeronáutica e chefes de missões diplomáticas podiam classificar o pedido como “ultrassecreto”, que é o mais longo dos sigilos. Agora, isso se estende a cargos comissionados de segundo e terceiro escalão.
Outros selos – reservado e secreto – já eram permitidos a outros cargos de nível mais baixo, mesmo no início da legislação.
Entidades que defendem o à informação –
Artigo19,
Transparência Brasil,
Transparência Internacional e
Open Knowledge Brasil – se posicionaram contra a medida. O
Jornal O Globo noticiou que a decisão foi tomada unilateralmente pelo governo, sem consultar a Controladoria-Geral da União (CGU), órgão responsável pela aplicação da LAI. Entretanto, o ministro da CGU, Wagner Rosário,
afirmou ao Estadão, posteriormente, que o decreto sobre sigilo não compromete a transparência.
Empresas privadas também solicitam sigilo de informações
Em alguns casos, a própria sociedade civil pede sigilo de um documento. Em outubro de 2012, por exemplo, a empresa
Casas Bahia foi ao
Ministério da Justiça pedir o sigilo de uma investigação que estava em curso sobre o alto número de reclamações sobre seus produtos.
O pedido pode ser visto aqui. A empresa alegou que haveria prejuízo financeiro com a divulgação das informações.
Uma das denúncias era a de que a empresa estaria oferecendo plano de odontologia aos seus clientes, o que seria irregular. A nota técnica do órgão que apurou a denúncia, mantida em sigilo, entendeu que houve lesão aos consumidores e sugeriu aplicação de uma multa de R$ 7,2 milhões à empresa.
Ambos os documentos – o pedido de sigilo e o documento sigiloso – foram obtidos pelo
Fiquem Sabendo por meio da própria LAI. Depois de o período em que o documento deixou de reservado, é claro.
Dica Fiquem Sabendo: veja todos os documentos que foram desclassificados de sigilo em algum ministério, e peça, pela LAI, que o ministério informe o motivo de eles terem sido colocados em sigilo, com a íntegra de todos os documentos. Esse é um jeito de saber, concretamente, como foi a tramitação para que uma base de dados tenha ficado com selo de reservado, secreto ou ultrassecreto.
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